Desafios emocionais de criar filhos fora do Brasil: como encontrar equilíbrio e apoio

Criar filhos já é uma tarefa desafiadora em qualquer contexto, mas quando essa responsabilidade é vivenciada fora do Brasil, o desafio assume camadas ainda mais complexas. Pais brasileiros que vivem no exterior enfrentam dilemas emocionais que muitas vezes são difíceis de compartilhar ou compreender, principalmente devido às diferenças culturais do país onde vivem.

De acordo com dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM), mais de 4 milhões de brasileiros vivem fora do Brasil. Muitos desses pais relatam sentimentos de isolamento, culpa e insegurança ao tentarem equilibrar sua cultura de origem com as expectativas do país onde estão criando seus filhos. É comum que sintam a pressão de “dar certo” em um ambiente que valoriza práticas educacionais e culturais que muitas vezes divergem do estilo brasileiro, que tende a ser mais caloroso e emocional.

Um exemplo prático é a abordagem “dura” de educação de filhos em alguns países, que pode valorizar independência extrema desde cedo, em contraste com o modelo brasileiro, frequentemente centrado no afeto e no acompanhamento próximo. Essa diferença pode gerar conflitos internos nos pais: “Será que estou sendo permissivo demais?” ou “Será que estou forçando meu filho a ser algo que ele não é?”. Esses dilemas podem trazer um impacto emocional significativo, contribuindo para a ansiedade, a sensação de inadequação e até o sentimento de solidão.

Além disso, muitos pais brasileiros no exterior enfrentam o medo de que seus filhos percam a conexão com a língua, a cultura e os valores do Brasil. Essa preocupação pode levar a um esforço constante de equilibrar a educação formal do país estrangeiro com a transmissão de suas raízes culturais em casa, algo que nem sempre é compreendido ou valorizado por terapeutas locais, que muitas vezes desconhecem o peso dessas questões culturais para os brasileiros.

Nesse contexto, é essencial que os pais reservem momentos para refletir sobre suas próprias necessidades emocionais. A pirâmide de Maslow, que identifica as necessidades humanas em níveis, pode ser uma referência valiosa. Enquanto muitos pais priorizam as necessidades básicas de segurança física e financeira para suas famílias, acabam negligenciando suas próprias necessidades emocionais e de pertencimento. Reconhecer que cuidar de si mesmo também é cuidar dos filhos é um passo fundamental para alcançar o equilíbrio.

Criar filhos fora do Brasil não precisa ser um caminho solitário. Comece com pequenas mudanças: reserve um tempo para compartilhar histórias da sua infância com seus filhos, pratique diálogos honestos e permita-se reconhecer suas próprias vulnerabilidades sem culpa. Cada desafio pode ser uma oportunidade de aprendizado e crescimento, tanto para os pais quanto para os filhos.

Se você sente que precisa de apoio para lidar com esses desafios, saiba que existem profissionais que compreendem as particularidades culturais dos brasileiros e podem ajudar a navegar por esse processo. O mais importante é dar o primeiro passo em direção ao equilíbrio emocional — para você e para sua família.

Por Cristiana Lima, Psicóloga Clínica

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